Momento ansioso e depresivo


"Momento ansioso e depressivo


Nos últimos meses têm sido um dos piores períodos da minha vida. Não pelas dificuldades do cotidiano, pois elas sempre existiram, mas sim contra algo maior do que eu, que é o Eu. O Eu que controla meu ânimo, meu sabor, minhas cores. O tempo está nublado e chuvoso, e sempre convidativo para ficar no meu quarto escuro debaixo das cobertas, mesmo ouvindo o maior amor da minha vida me pedir atenção enquanto eu me movimento com muito sacrifício para fazer arroz com salsicha.


Só quem passa por isso entende em síntese do que estou falando. E essa doença não escolhe cor, idade, classe social, ignora a exceção.


Como qualquer pessoa normal, eu antes condenava aqueles que cometiam suicídio simplesmente pelos mesmos clichês: "Nossa, ela tinha tudo", "Nossa, que covarde", "Nossa, por que ele fez isso?". Talvez esta última seja a que mais chame a atenção, mas mesmo que eu gaste todas as minhas energias tentando explicar, será inexplicável para aqueles que não são afetados.


Tenho uma filha linda que amo com todo o meu coração. Ela é hoje o que me mantém lutando contra algo que naturalmente deveria ser ao contrário, instintivo.


Peço perdão àqueles que têm doenças físicas pela comparação. Talvez esteja cometendo um grande erro ao falar isso, mas acredito que muitos de nós que sofremos com o mental desejaríamos a dor física. Pois ela nos dá vontade de lutar pela cura, para parar de doer. Já a nossa anedonia não nos permite nem esse instinto mais primitivo, que é a vontade de viver. Ruminamos quietos, mas em alto volume em nossa mente. Gritos e angústias no nosso quarto mental escuro e fechado não cessam, só pioram. E precisamos ser anestesiados artificialmente para que este quarto se acalme. Mas quando abrimos os olhos no dia seguinte, lá está ele novamente. Gritos de culpa ecoam do quarto e se propagam por todo o nosso corpo.


Não sabemos o que fazer, só esperamos um dia após o outro que isso acabe de forma definitiva. Voltar a sorrir como antes e ver as cores vivas da vida novamente. Saborear um bom café e interessar-se por uma simples conversa com o porteiro, padeiro, caixa, lixeiro, mecânico, etc. Isso nos foi tirado! Por quê? Trauma? Acúmulo de estresse?


Devemos nos viciar em ficar anestesiados e trocar este quarto que permanece aberto por qualquer gatilho?


Nunca estivemos tão perto de Deus! É a Ele que recorremos, pois depois de tantos tratamentos alternativos que nunca curam, nos resta a fé. Neste poderoso Deus que nos dá energia para seguir um dia após o outro.


Para vocês que pensaram em suicídio, assim como eu, peço que não desistam da vida e me solidarizo com você pelo seu sofrimento. Estamos juntos, mas tudo tem um propósito.


Sabe, tenho uma amiga que no ano passado foi diagnosticada com um dos piores cânceres. As expectativas eram reduzidas, mas durante todo o tratamento ela irradiou uma energia incompreensível de vitalidade. Contra tudo que era negativo, ela estava positiva! Ontem, depois de muito tempo de tratamento, encontrei-a muito feliz da vida. Isso nos leva a um autoquestionamento conflitante demais para tentar escrever como aconteceu. Mas fiquei feliz por ela, por ter conseguido vencer a morte e estar vivendo, enquanto eu do outro lado busco resenha com a morte.


Não faz sentido algum isso! O que é afinal? Desequilíbrio químico em nosso cérebro? Deus? Ação de espíritos malignos querendo nossa alma? De fato, não sei! Só vou um dia de cada vez, lutando com todas as minhas forças sozinho, pois as pessoas não entendem.


Outro dia de autoquestionamento foi quando estava indo trabalhar pilotando minha moto e me deparei com o acidente fatal de um estranho que ia para o trabalho. A vida para alguns é tão efêmera, enquanto a nossa parece um infinito. Por que aconteceu com ele e não comigo? O mundo é um mistério.


Acho que uma das soluções para nós é aprendermos a ressignificar nossa vida. Voltar ao passado, em um ponto divisor, e recomeçar de lá."


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