TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR (TAB)

UMA BOA PARTE DA MINHA VIDA E ALGUNS DILEMAS

Hoje, aos 46 anos, ainda vivenciando altos e baixos, após enfrentar surtos psicóticos e um novo episódio grave, fui novamente internado — desta vez, em uma clínica de alto padrão, com todos os recursos necessários para pacientes como eu.

Cheguei em estado lastimável, após cinco dias extremamente caóticos dos quais tenho poucas lembranças. O que sei desse período vem de relatos de amigos e familiares que estiveram ao meu lado tentando me socorrer ou ajudar de alguma forma. Mais uma vez, eu era “outra pessoa”.

Polícia, SAMU, bombeiros, sangue, lágrimas e caos. Foi exatamente assim. Iniciei o último dia desse episódio como no filme Se Beber, Não Case — acordei sozinho em casa, que estava completamente destruída, e não fazia ideia do que havia acontecido. Apenas vagas lembranças. Minha esposa havia fugido para a casa do pai, pois eu estava agressivo e, talvez, perigoso — embora eu conteste isso. Mas quem sou eu para argumentar? Ainda assim, naquele dia, ela me ligou e sugeriu que eu fosse internado em uma clínica particular. Eu, completamente confuso e debilitado, aceitei.

Cheguei à clínica ainda muito desorientado, sem lembranças coerentes. Não consegui realizar uma entrevista coesa com a Dra. Bruna, pois minha mente apresentava apenas fragmentos de memória. Eu acreditava que tudo aquilo tinha ocorrido em apenas um dia, mas, na verdade, foram cinco dias de completa insanidade. Ela inicialmente me classificou como dependente químico, e fui encaminhado para o quarto.

Já era noite, e eu não compreendia a rotina da clínica. Fiquei assustado ao ver outras pessoas em estado de grande desorientação, o que me levou a um questionamento interno inevitável. Após algumas horas, recebi medicação e fui descansar. Foi uma das piores noites da minha vida. Tive alucinações vívidas: sonhei acordado com demônios tentando me capturar, como se estivesse em uma espiral ascendente onde cada degrau escondia um monstro diferente. Eu via o quarto, a janela, a porta, mas não conseguia acordar. Queria gritar por socorro, mas estava paralisado. Rendi-me ao sofrimento, pedindo perdão pelos meus pecados. Felizmente, não foi eterno. A luz do dia e as vozes nos corredores finalmente me despertaram.

Os enfermeiros me acolheram com humanidade e carinho, explicando a rotina da clínica. Fiz meu primeiro lanche no refeitório, onde encontrei pessoas descontraídas, outras introspectivas, e algumas claramente em estados graves. Aprendi a respeitá-las ao longo do tempo. Ainda naquele dia, fui acolhido por técnicos que elaboraram minha ficha e participei da minha primeira reunião em grupo com dependentes químicos. Percebi ali que havia pessoas em situações ainda mais difíceis que a minha — e que o “fundo do poço” não tem fundo; sempre é possível descer mais. No entanto, senti-me deslocado, pois não me identificava como dependente químico. Compreendi que muitos dos DQ vivem exclusivamente em função da droga, fazem de tudo para obtê-la e acabam destruindo a própria vida. A maioria era de pessoas com boa condição financeira. Não entrarei em detalhes, por respeito à privacidade, mas posso dizer que eram, em geral, pessoas muito queridas e animadas — bem diferente do grupo ao qual mais tarde eu seria integrado.

Nesse mesmo dia, fui abordado por minha querida terapeuta, Hosana, que me acolheu com atenção e afeto. Ainda não conseguia me expressar com clareza sobre o que estava acontecendo comigo. Falei sobre sonhos e vozes que ouvia. Ela percebeu meu estado e o atendimento, compreensivelmente, não foi muito produtivo. Acredito que, ainda nesse dia, fui atendido pelo Dr. Rodrigo, meu psiquiatra, embora não me lembre de nada — apenas do segundo atendimento, que ficou registrado na minha memória.

Os episódios de surto sempre foram frequentes na minha vida, mas ultimamente passaram a ocorrer com menor intervalo e com maior intensidade. Sempre afirmei que a pessoa que cometia os atos durante o surto não era eu. Isso pode parecer uma forma de fugir da responsabilidade, mas é a realidade. E, como sempre, após alguns dias eu me recuperava, voltando a ser uma pessoa serena e absolutamente normal — como se não fizesse sentido eu estar ali internado. Uma semana depois, minha terapeuta voltou a me atender e disse que eu já parecia outra pessoa. Não me surpreendi, pois sabia que ela perceberia isso. Nessa nova consulta, consegui relatar com clareza os acontecimentos da minha vida e reforcei que nunca fui um usuário dependente de drogas. Ela então segurou minha mão e disse que sabia o que eu tinha — e que havia tratamento. Fiquei incrédulo. Sempre levei uma vida produtiva e estável, e os surtos eram eventos isolados causados por estresse ou consumo de álcool.

À noite, no meu quarto, fui abordado pelo Dr. Rodrigo, que me apresentou o diagnóstico: Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Não compreendi completamente, pois é um assunto complexo. No entanto, fiquei mais confiante ao saber que ele é especialista em TAB.

Importante: sempre sofri com depressão e fui tratado como tal. No entanto, os antidepressivos que me eram prescritos funcionavam como lenha na fogueira para o TAB. Por isso, trocaram minha medicação por estabilizadores de humor. Tive muito medo de voltar a experimentar a depressão, mas, graças a Deus, isso não aconteceu durante minha estadia na clínica — e meus dias lá foram muito bons.

Na terceira abordagem da terapeuta, fui transferido para o grupo da psiquiatria. Foi reconfortante receber um diagnóstico firme, embora ao mesmo tempo fosse doloroso perceber que sou um paciente psiquiátrico.

As reuniões da psiquiatria são mais calmas e acolhedoras. Inicialmente, as terapias me pareceram ineficazes — como cuidar de plantas —, mas aprendi muito com elas. Estando mais sereno, passei a observar com curiosidade os problemas alheios, percebendo que cada um vive em um mundo muito particular, onde seus conflitos existem, muitas vezes, apenas dentro da própria mente — assim como os meus. Falar de saúde mental é algo muito difícil; somente outro paciente entende verdadeiramente.

Os dias passaram. Recebi visitas da minha família e ansiava por receber alta para retomar minha vida. Na quarta semana, após conversas com o Dr. Rodrigo e a Dra. Hosana, minha alta foi finalmente decidida.A alta veio, fui para casa medicado e com minhas prescrições para tres tipos de remédios.  Um estabilizador de humor, um anti-pisicótico e outro SOS.

Ao chegar para fazer as atividades do trabalho tive dificuldades, parecia que eu estava desacostumado.  Porém com o passar dos dias percebi que eu estava com dificuldades de acompanhar raciocínios, conversas, participar de reuniões, esquecimento e etc.  Isso me assustou muito.  Fiquei ansioso para chegar o dia da minha consulta particular com o Dr Rodrigo, pois precisava entender qual remédio poderia estar causando isso, entretanto continuei tomando ortodoxamente os remédios prescritos.  Ainda tinha dificuldade para dormir e como foi desadiministrado ao Alprazolam que usava para dormir fiquei com mais dificuldade e o sono é uma coisa essencial para quem TAB.

Tentava esconder das pessoas a minha lerdeza mental, mas algumas pessoas percebiam que eu ficava aéreo nos assuntos discutidos.  Quando chego o dia da consulta expliquei ao Dr Rodrigo o que se passava comigo e ele resolveu trocar a medicação, porém tive outros efeitos colaterais indesejáveis, pois ficava com sonolência e com preguiça de fazer tarefas simples no dia seguinte.  INFELIZMNETE, após alguns dias comecei a ficar apático e com depressão novamente.  

Porem dessa vez acredito que foram os remédios que me deixaram nesse estado, pois a apatia era diferente.  Eu sentia na verdade muita preguiça e tudo era muito difícil de se fazer.  Uma simples tarefa de ir no mercado comprar batata era do mesmo peso de cavar um buraco de 5 metros de profundidade com uma colher de sopa.  Pensei varias vezes em parar de tomar a medicação, mas continuei firme pois acreditava que o era questão de tempo para adequação do meu organismo.  O tempo passou e eu ainda continuava apático e sem sorriso do rosto, nao conseguia manter diálogo com ninguém, pois era um esforço muito grande e era artificial, pois nao queria conversar.  Me via em um cárcere mental, sem ter para quem recorrer.  Os problemas não trabalho me deixavam mais ansioso ainda e minha vida virou um inferno novamente, nao queria mais acordar e só queria ficar deitado torcendo para pegar em um sono para fugir da realidade, e por vezes isso acontecia porém ao acordar me sentia caindo radicalmente a uma velocidade imensa na depressão e ansiedade.

Semanas se passaram assim, nesse pesadelo. Até que um dia lembrei que o Dr Rodrigo disse que depois poderia tentar um tratamento com Atentah, remédio para TDAH, e eu por conta própria resolvi comprar e aproveitei e comprei ritadina.   Magicamente no dia seguinte após tomar esses remédios eu consegui sair da depressão e ansiedade, mas me senti voltando a episódio de mania da bipolaridade.  E sendo sincero, eu sei que o preço da mania é mais caro porém me sinto vivo e nao tenho vontade de morrer quando estou na mania.  O preço é tão caro que poem em risco toda minha vida conjugal, trabalho, finanças, saude, integridade e etc, mas nada é pior do que depressão e ansiedade.  Claro que isso é uma visão um tanto egoísta, pois sei que afeta todos ao meu redor.  Mas nao sei o que fazer, só nao queria mesmo ter esse transtorno.  Outra coisa que tem me assustado é a possibilidade de eu ter TDAH, pois como li sobre o Atentah me interessei sobre o assunto e fiz alguns questionários para tentar diagnosticar, e sim, pelo auto diagnóstico tenho TDAH.  Claro vou levar isso para o médico avaliar.

Nos últimos anos nao tenho conseguido terminar meus projetos, e no meio de um eu paro e começo outro que nao termino.  Isso tem me assustado por que tenho visto que minha produtividade está indo embora.  

Esse texto longo que escrevo é só sobre o efeito da ritalina, pois se nao tivesse sobre o efeito nao teria conseguido escrever um parágrafo.

Mas o que queria chamar a atenção nesse post é a minha preferencia indevida por permanecer na fase da mania. Não sei por quanto tempo conseguirei me manter nesse estado sem voltar a depressão, espero que demore muito mas ao mesmo tempo sei que não depende da minha vontade.  

Estou com um medo enorme do futuro, mas não to com ansiedade.  O meu medo é a incerteza, o medo de decepcionar as pessoas que já estou decepcionado.  

Na minha fase de mania eu tenho algo muito ruim que é a hipersexualidade, para o leigo pode parecer algo até bom mas é um verdadeiro caos, pois durante todo o tempo sinto vontade de fazer sexo e minha esposa logo percebe que estou em mania.  Pois fora da mania a rotina é de duas vezes na semana no máximo, e dentro da mania são cinco vezes por dia.  Isso é incontrolável, nao depende de mim.  Diferente de outras manias como compras compulsivas e se achar invencível a minha é essa.

A fase de euforia é período de extrema produtividade, criatividade, energia, autoconfiança e até mesmo euforia emocional. Eu me sinto vivo,  com pensamentos acelerados, fala mais fluente, senso de propósito elevado e uma sensação de conexão intensa com o mundo. Em contraste, a fase depressiva é um inferno  doloroso e paralisante: marcada por desesperança, exaustão, lentidão, culpa, pensamentos negativos recorrentes e ideação suicida.

Por isso diante do risco ainda vejo o  estado de euforia como uma espécie de "fuga" ou compensação para o sofrimento intenso da depressão. Ela é uma  cura egoísta para o vazio e a dor emocional causados pela fase depressiva. Ela vem acompanhada de um alívio que pode ser preocupante, me levando a ideia de abandonar o tratamento ou pelo menos atenuar o uso dos remédios que me deixam apáticos.  Nenhum desses remédios tem colaterais aceitáveis para mim, e muitas das vezes vejo como prejudicial, pois estabilizam o humor mas me deixa sem vida, como uma planta só se alimentando do sol.

A fase de euforia no Transtorno Afetivo Bipolar, embora inicialmente pareça positiva, cobra um preço alto. Seu impacto pode ser severo e desorganizar completamente a minha vida — e isso, infelizmente, é algo que tende a ocorrer com certeza! Ainda assim, permaneço no impasse entre o que significa viver plenamente e o que parece ser apenas vegetar sob o efeito dos medicamentos estabilizadores de humor.

Alguns profissionais da área de saúde mental, especialmente em redes sociais como o TikTok, afirmam que, com o tempo e com os ajustes corretos na medicação, os efeitos colaterais costumam diminuir e a adaptação se torna mais suportável.  O que me assusta MUITO é saber que no entanto, é igualmente certo que a depressão, cedo ou tarde, tende a retornar.

Esse ciclo traz um dilema difícil: aceitar a estabilidade ao custo de uma certa anestesia emocional, ou correr o risco de desestabilizar tentando manter o que se sente como uma versão mais viva e intensa de si mesmo. Trata-se de um conflito profundo entre saúde e identidade.

Esse texto tem como propósito de deixar registrado, de forma clara e honesta, aquilo que muitas vezes não consigo expressar em palavras no dia a dia. Não se trata de um pedido de ajuda ou de atenção, mas de um testemunho: caso, futuramente, algo trágico venha a acontecer, que fique ao menos documentado o que vivi por dentro — o que senti, lutei e enfrentei em silêncio.

Conviver com o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é carregar um peso invisível que, em muitos momentos, parece insuportável. A oscilação entre estados de euforia e depressão profunda desgasta não apenas o corpo e a mente, mas também a esperança e as pessoas ao redor. As estatísticas são claras: pessoas com TAB têm um risco significativamente elevado de suicídio 30%. E, infelizmente, compreendo por experiência própria o porquê desses números serem tão altos.

O que mais me aflige não é apenas a dor em si, mas também a incompreensão constante, porém entendo. Sinto que, apesar dos esforços para me manter funcional, sou frequentemente mal interpretado, julgado ou até mesmo ignorado nas minhas tentativas de explicar o que estou vivendo. A solidão emocional que isso gera é profunda — é como gritar debaixo d’água, esperando que alguém escute.

Neste contexto, lembro da tentativa de me jogar da ponte Rio-Niterói para silenciar o sofrimento não foi um ato de fraqueza, mas sim o reflexo desesperador  de um esgotamento profundo. Se esse gesto um dia for lembrado, que não seja apenas como mais um número dentro de uma estatística trágica. Porque, por trás desse número, existe uma história, uma batalha diária, e um ser humano tentando, desesperadamente, encontrar paz dentro de um caos invisível.

Não sou um covarde. Pelo contrário: sou um guerreiro. Um guerreiro cansado, sim — mas que tem lutado dia após dia contra vozes, impulsos e versões conflitantes de mim mesmo. Dentro da minha mente, existem muitos "eus" em disputa constante: o que quer viver, o que sente demais, o que quer desistir, o que ainda acredita, o que grita por ajuda e o que aprendeu a se calar.

Obviamente não posso deixar de falar sobre a pessoa que, apesar de todas as adversidades, permaneceu ao meu lado: minha esposa, Wanessa. Não há como relatar minha trajetória de sofrimento e luta contra o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) sem reconhecer o impacto profundo que essa condição teve sobre ela — e, consequentemente, sobre nós.

Carrego comigo um sentimento de culpa que às vezes se torna insuportável: a sensação de que, de alguma forma, roubei parte da vida dela, se nao toda. Uma vida que poderia ter sido mais leve, mais estável, mais justa — se não fosse pelos efeitos devastadores do transtorno que só agora recebeu um diagnóstico claro. Olhando para trás, é impossível não reconhecer o quanto Wanessa suportou. São inúmeras histórias marcadas por dor, mágoas, traumas, episódios de confusão emocional, discussões intensas, gritos, escândalos e rompantes difíceis até de descrever. Seriam necessárias páginas e páginas para tentar dar conta da complexidade e da carga desses momentos.

Muitas vezes me pergunto se Wanessa, de certa forma, não foi mais uma vítima do transtorno do que eu mesmo. Ela esteve exposta a toda a imprevisibilidade, à instabilidade e ao descontrole que a fase eufórica do TAB pode provocar — tudo isso sem saber exatamente do que se tratava, muitas vezes sem entender por que eu agia da forma que agia, e tendo que lidar com os danos práticos e emocionais dessas crises. Ainda assim, ela permaneceu.

Existe em mim uma angústia persistente: a ideia de que talvez, se eu tivesse tido um pouco mais de força ou clareza nos momentos de euforia, o “eu” que tanto acredita no amor e na responsabilidade poderia ter feito escolhas mais sensatas — escolhas mais próprias de quem sou de verdade, ou de quem eu gostaria de ser. Mas, ao revisitar mentalmente os episódios da fase maníaca, percebo que essas decisões não nasciam da razão, e sim de um impulso desgovernado, quase alucinado. A euforia do TAB, muitas vezes romantizada por quem não a conhece de perto, tem um lado obscuro: ela SEQUESTRA o senso crítico, DISTORCE a percepção da realidade e empurra a pessoa para comportamentos que, quando vistos em retrospectiva, causam profunda vergonha, constrangimento e culpa.

É difícil encarar essa parte da minha história. E ainda mais difícil é perceber o quanto isso feriu alguém que me ama e que acreditou em mim. Wanessa foi, e talvez nao seja mais, uma das âncoras mais importantes da minha vida. Não sei quantas pessoas teriam suportado tanto por tanto tempo, e com tamanha entrega.

Este registro é também para ela. Para reconhecer publicamente sua dor, sua paciência, sua força e, sobretudo, sua humanidade. E para que, no futuro, mesmo que eu não esteja mais aqui para dizer isso em voz alta, fique ao menos registrado que eu vi, que eu senti, e que sou eternamente grato — mesmo que nunca tenha conseguido demonstrar da maneira certa.

Ao longo da minha trajetória marcada pelos altos e baixos do TAB, ocorreram inúmeros episódios insanos, traumáticos e profundamente dolorosos — muitos dos quais se deram em contextos familiares, natais, ano novo e em encontros sociais, reuniões e momentos que, em tese, deveriam ser de convivência e afeto. Infelizmente, esses episódios acabaram deixando marcas não apenas em mim, mas também em Wanessa, minha esposa, que sempre esteve ao meu lado, mesmo quando tudo parecia ruir.

De forma inevitável, os desdobramentos dessas crises sucessivas acabaram gerando uma visão distorcida da imagem dela perante algumas pessoas, especialmente dentro da minha própria família. Em meio à confusão e ao desgaste emocional, houve momentos em que Wanessa, já extremamente fragilizada, se descontrolou, reagiu com nervosismo ou se exaltou — comportamentos que, quando vistos de fora e sem o devido contexto, acabaram contribuindo para que ela fosse injustamente percebida como desequilibrada, ignorante ou mesmo como a causadora dos conflitos.

No entanto, é fundamental que eu deixe aqui, de forma clara e registrada, que essa imagem é profundamente equivocada. Wanessa nunca foi a vilã da história. Ela é, sem dúvida, uma das maiores vítimas de tudo o que o TAB causou em nossas vidas. Toda reação dela, por mais intensa que tenha sido, foi consequência direta do desgaste emocional extremo ao qual foi submetida. Durante anos, ela chorou calada, sufocou mágoas, tentou manter o equilíbrio de uma casa afetivamente abalada e foi, muitas vezes, a única pessoa tentando conter o caos que eu mesmo provocava — mesmo sem ter plena consciência disso.

Seus momentos de dor, de grito, de desespero e até de perda de paciência não foram sinal de fraqueza, mas de exaustão. Ela não chorou lágrimas — ela chorou sangue. E mesmo diante de tudo, manteve-se firme dentro do possível, com uma fé que poucas pessoas teriam diante de uma tempestade tão longa. Sua força foi o que segurou não só nosso relacionamento, mas muitas vezes a minha própria existência.  E ela sabe disso.

Por isso, deixo aqui este registro. Para que, no futuro, mesmo que vozes equivocadas tentem pintar sua imagem com cores que não lhe pertencem, exista este testemunho: Wanessa é íntegra, leal, humana e profundamente amorosa. Seu caráter é intocável. E sua fé — ainda que testada até os limites do suportável — nunca foi abalada. O que quer que tenha acontecido entre nós, nasceu do sofrimento causado pela minha condição ou até mau cartismo mesmo (tenho minhas dúvidas), e não por falhas morais ou emocionais dela.

É minha responsabilidade proteger sua memória, honrar sua história e reconhecer, com toda a verdade que me resta, que ela merece ser lembrada com respeito, admiração e justiça.

Não sei exatamente em que parágrafo este texto se encerrará. A verdade é que ainda estou vivo, e enquanto houver fôlego e consciência, muitas outras coisas podem acontecer. A trajetória que venho percorrendo é instável, fragmentada e muitas vezes silenciosa demais para ser compreendida apenas por olhares externos. Talvez um testemunho contínuo da minha existência — com o intuito de, um dia, lançar luz sobre a verdadeira essência dos acontecimentos que marcaram minha vida e impactaram profundamente.



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