Tempestade de partículas no cinema da consciência.



Tempestade de partículas no cinema da consciência?


Naturalmente, pode-se simplesmente insistir que o cérebro ou mesmo apenas uma região do cérebro é, de fato, um homúnculo.  Assim, contudo, não se explicou nada, mas sim se tomou um mito por verdade.  Uma outra opção, claramente um pouco melhor, levanta novamente o caso da estátua do Buda.  O problema na representação de que a nossa consciência seja um puro palco que só é acessível a cada indivíduo privadamente e com a qual cada indivíduo está intimamente familiarizado é que, assim, não se pode mais reivindicar que percebamos diretamente, de algum modo, coisa no mundo exterior.  Afinal, a percepção é uma forma de consciência.


Se a consciência sempre nos encobre da realidade ou das coisas “lá fora”, isso também vale para a percepção.  Nesse caso, seria fácil de entender que se defenda a ideia de que nunca sabemos o que realmente está “lá fora”, pois seríamos, de fato, sempre apenas como o Dalek que assiste um filme da consciência em sua casa-cinema no interior do cérebro.  Como é que sabemos, porém, que as coisas “lá fora” sequer se aproximam de ser como elas aparecem em nossa tela privada?  Como sabemos até mesmo que haja coisas lá fora?


A única razão que parece favorável a esse modelo explicativo é que cada um de fato vê algo diferente quando ele está diante de uma estátua do Buda, e que outros seres vivos nem mesmo veem uma estátua do Buda, assim como   além disso, têm modalidades complemente diferentes de sentidos e sensações.  Assim, se teria chegado ao neuroconstrutivismo, que coloca em questão que percebamos diretamente a realidade e as coisas nela e diz que, em vez disso, só podemos perceber imagens mentais ou representações que o cérebro se construir por causa de impressões sensoriais individuais.

 

Todavia, não é tão simples assim.  É que o neuroconstrutivismo ainda precisa sempre supor que há algo “lá fora” que se apresenta em meu cinema-consciencia com estátua de Buda distorcida perspectivamente e que se apresenta para a cobra de uma maneira completamente diferente.  De acordo com essa perspectiva, há algo que aparece para mim como uma estatua de Buda, para a cobra com X para o morcego  com Y (X e y são, aqui, representantes de algo que nós seres humanos, não podemos sequer imaginar).  Sim, mas então o que há ali?  A essa pergunta responde o neuroconstrutivista:  “Ali há um objeto físico:  um tipo de tempestade de partículas que pertence a uma frequência de onda eletromagnética, de que nós por meio de seus receptores sensoriais, fazemos upload em nossa interface de usuário, em nossa consciência.



Mas essa informação aparentemente tão evidente e além de tudo cientificamente informada, nos leva adiante aqui?  Não, de fato não!  Isso porque todo raciocínio parte simplesmente de que só podemos chegar à consciência de objetos físicos (elétrons, prótons, campos eletromagnéticos, energia cinética média e assim por diante) pelo fato de que eles aparecem em nossa tela espiritual privada correspondente, ou seja, em nossos filmes de consciência correspondentes.  Não nos foram fornecidas ainda razões para que possamos ter alguma consciência direta, uma percepção das coisas “lá fora”.  Não se pode, de qualquer modo, perceber diretamente elétrons, mas deve-se concluir sua existência por meio de métodos, experimentos e modelos adequados.


Mas e quanto à nossa consciência sobre métodos e experimentos, assim como nosso entendimento de elétrons ?  De onde afinal os tiramos?  Se não é possível tomar conscientemente conhecimento de algo sem que, para tanto, façamos o seu upload em nossa superfície de consciência puramente privada e espiritual, isso vale naturalmente  para tudo que jamais saberemos sobre as coisas “lá fora”, o mundo exterior.  Assim, também não penetramos, por meio de nossos experimentos cientifico nas coisas, permanecemos presos na consciência e somos, por isso, sempre sujeitos parciais e enclausurados, homúnculos, justamente.

Se a consciência é literalmente um processo neuro químico no interior do nosso crânio, no qual roda um cinema de cabeça que, supostamente, reproduz o mundo exterior, como podemos saber afinal que realmente existe algo “lá fora” que tem, de algum modo, uma conexão com as nossas imagens mentais?  Não podemos dizer que nós descobrimos isso por meio de experimentos científicos, pois nós só conduzimos a estes em nosso filme de consciência.

 

 

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